Arte educação

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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Baú de Histórias - um conto Carajá



Um casal carajá teve duas filhas: Imaeró (Imaherô), a mais velha e Denaque (Denakê), a mais nova. Num anoitecer de céu estrelado, Imaeró viu Taina-can (Tahina-can) brilhar tão bela que não se conteve e disse:

- Pai, é tão bonito aquilo! Eu queria possuí-lo!

O pai riu e disse-lhe que Taina-can estava tão longe que ninguém o poderia alcançar. Contudo acrescentou:

- Só se ele, ouvindo-te, quiser vir.

Alta noite, quando todos dormiam, a moça sentiu que alguém estava ao seu lado. Sobressaltada, indagou:

- Quem és e o que queres de mim?

- Eu sou Taina-can, ouvi que me querias e vim. Casa comigo, sim?

Imaeró acordou os pais e acendeu o fogo. Taina-can era um velho, de cabelos brancos e pele enrugada. Vendo-o à luz da fogueira, Imaeró disse:

- Não te quero para meu marido. Eu quero um moço forte e bonito.

Taina-can ficou muito triste e chorou. Então, Denaque, compadeceu-se dele e procurou consolá-lo dizendo:

- Pai, eu me caso com ele!

E, o casamento realizou-se, com grande alegria do velhinho. Depois de casado, Taina-can disse:

- Vou trabalhar para te sustentar, Denaque. Vou fazer um roçado para plantar coisas boas, que carajá ainda não possui nem conhece.

E foi ao rio Araguaia (Berô-can), dirigiu-lhe a palavra e, entrando nele, ficou com as pernas abertas, de maneira que as águas passavam entre elas. Curvado para a corrente, de vez em quando mergulhava as mãos e apanhava as boas sementes que iam jogando rio abaixo. Assim, as águas deram-lhe um punhado de milho cururuca, feixes de raiz de mandioca, e muito mais. Saindo do rio, ele disse a Denaque:

- Vou derrubar mato para fazer roçado. Porém, não venhas me ver no trabalho, fica em casa, cuidando da comida.

Taina-can foi, mas demorou tanto que, preocupada, Denaque resolveu desobedecer às recomendações e foi, de mansinho, procurá-lo. Ah! Que surpresa! Quem estava ali a trabalhar era um belo moço, alto, cheio de força e de vida, que tinha no corpo os enfeites e as pinturas que os carajá ainda hoje usam. Denaque não se conteve, louca de alegria correu a abraçá-lo. Depois, o levou consigo para casa, contente por mostrar aos pais como seu esposo era na verdade. Foi então que Imaeró o desejou também e disse a Taina-can:

- Tu és meu marido, pois vieste para mim e não para Denaque.

Mas Taina-can respondeu-lhe:

- Só em Denaque encontrei bastante bondade, para ter pena do pobre velhinho. Agora não te quero, só Denaque é minha!

Imaeró, de despeito e inveja, soltou um grito, caiu no chão e no lugar dela, viu-se um Urutau, pássaro que ainda hoje dá um grito triste e tão forte que parece ser uma ave muito maior. Foi assim que a nação carajá aprendeu com Taina-can a plantar o milho, o ananás, a mandioca e outras coisas boas que antes não conhecia.

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